sexta-feira, 27 de março de 2009

Armagedeon Matos


Deixamos a entrevista com o Sportinguista Luis Aguiar de Matos:

"A poucos dias da decisão de avançar com uma candidatura à presidência do Sporting, o empresário e conselheiro leonino Luís Aguiar de Matos não poupa a gestão da actual direcção. Membro da comissão organizadora do Congresso Leonino, que arranca amanhã em Santarém, Aguiar de Matos vai esperar pelo resultado deste encontro e pela Assembleia Geral do clube para decidir a sua candidatura.

PÚBLICO - Vai ser candidato à presidência do Sporting?
LUÍS AGUIAR DE MATOS - Está equacionada uma candidatura encabeçada por mim, mas ainda não tomei a decisão definitiva. Só a tomarei depois do Congresso e depois da Assembleia Geral, que vai decidir a emissão dos VMOC [Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis, que configuram um aumento de capital da SAD], no âmbito do plano de reestruturação económica apresentado pela actual direcção. A minha decisão está dependente de ver bem o que os sportinguistas querem para o clube e se isso está de acordo com a minha visão.

Conta com o apoio de Dias da Cunha?
Não falei com ele, mas já me chegou aos ouvidos que se terá disponibilizado para acompanhar uma candidatura, que lhe pareça credível, às negociações com a banca. Este é um dado importantíssimo.

O que critica no projecto de reestruturação económica da actual direcção?
Eu sou contra a emissão dos VMOC, que na prática são um empréstimo obrigacionista que, ao fim de cinco anos, se transformam em acções da SAD. Numa linguagem simplista, um empréstimo obrigacionista, no verdadeiro sentido, tem de ser devolvido em dinheiro dentro de um determinado prazo, neste caso é convertido em acções. De momento, o universo Sporting participa na SAD com 70 por cento de acções. Para manter a maioria accionista, terá de acompanhar o aumento de capital resultante na conversão dos VMOC. Será preciso pôr alguma coisa de valor, de palpável, dentro da SAD para que a banca torne firme um empréstimo obrigacionista destes. Por isso é que querem transportar a Academia e, mais tarde, o Estádio para a SAD. O que significa que o clube perde mais duas fontes de receitas.

Considera correcto que, antes das eleições, seja proposto um plano de reestruturação económica, que irá condicionar os próximos anos do clube?
De maneira nenhuma. Está a ser hipotecado o futuro. Faz lembrar um bocado a história do Freeport: esta direcção está em gestão e não pode tomar grandes decisões. E esta é uma decisão importante e profunda, que pode condicionar decididamente o futuro.

As eleições vão realizar-se também numa altura em que já deveria estar preparada a próxima temporada…
Será um salto no escuro, mas por culpa do poder instituído, como tem sido prática corrente desde o utópico projecto Roquette. Aquilo que eu defino como o “roquetismo” e o “continuísmo”, que passa por criar dificuldades a qualquer candidato alternativo, com cenários assombrosos e desastrosos, para dissuadir as pessoas a candidatarem-se à direcção.

Onde está o resto do dinheiro?

Acha que há uma oligarquia a governar o Sporting?
Claro que há. O que tem sucedido é uma sucessão dinástica na direcção do clube. Começou no Pedro Santana Lopes, que era o “testa de ferro” de Roquette. Seguiu-se o próprio Roquette e depois Dias da Cunha. Tudo por cooptações. O próprio Dias da Cunha chegou a dizer que a presidência seria assumida transitoriamente por Soares Franco, para depois assumir o cargo Ernesto Ferreira da Silva. Isto não é uma sucessão dinástica? A mim, dá-me a impressão de que estão todos a tapar-se uns aos outros. De quê? Não sei. Mas também deixo aqui uma pergunta: esta direcção, que disse e propalou que tinha sido a salvadora do Sporting, foi também aquela que maior encaixe financeiro realizou na história do clube. Entre a venda de património não desportivo (46 milhões de euros), o retorno da venda do passe de Nani (25 milhões), três idas seguidas à Liga dos Campeões (30 milhões) e as receitas decorrentes da venda dos terrenos do antigo estádio (29 milhões), encaixaram 130 milhões de euros, mas na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) está declarado que o abate ao passivo cifrou-se em quatro milhões, o que representa três por cento desse valor. Onde está o resto? Não estou a dizer que alguém o tenha, mas aquilo que duvido é que tenha sido bem utilizado. Isto foi um autêntico Euromilhões e não há nada mais para receber, a não ser as receitas correntes e triviais.

Qual a verdadeira dimensão da crise que o clube atravessa, na sua opinião?
Tal como diz Dias da Cunha, o clube corre sérios riscos de acabar. Isso é verdade e é preciso dizer aos sócios e adeptos. Se a direcção está permanentemente a desviar receitas do Sporting clube para a SAD, privilegiando este negócio em detrimento do negócio do clube, é claro que o clube acaba. E a curto prazo, o Sporting clube irá perder a maioria de acções da SAD, se aparecer algum investidor interessado em adquirir capital. Só restará o futebol profissional e acabará tudo o resto que é o clube. O dr. Filipe Soares Franco já deu entrevistas em que deixava claro que o Sporting até se geria com alguma tranquilidade, mas o que atrapalhava eram os sócios.

Concorda com a ideia lançada pela direcção de realizar uma Assembleia Geral (AG) referendária para votar o projecto de reestruturação financeira?
Em princípio concordo, por uma razão muito simples: é possível fazer uma AG com 200 a 500 sócios, mas se forem mais, já é impossível. Defendo, contudo, que não se deve dar peso de voto aos participantes [que está dependente do número de anos como associado], atribuindo a cada sócio apenas um voto, mas estabelecendo um limite mínimo de anos de sócio para participar. Votariam apenas os sócios mais maduros e que conhecem melhor o clube.

A direcção tem acusado os críticos de não apresentarem projectos alternativos...
Não é verdade. Há vários grupos de sócios que já publicaram vários trabalhos. Agora, por muito bom que seja o projecto que se apresente à actual direcção, ela considera que não presta, dentro daquele espírito de se perpetuar no cargo. Consideram todos maus. Por outro, não pode ser apresentado nenhum projecto financeiro englobante sem falar com os bancos. E, para ser recebido pela banca, terá de haver legitimidade para tal, que só será conferida por uma eleição.

Coincidências entre BES e Soares Franco

Como é que uma candidatura que se apresente como alternativa à actual direcção poderá, em tão pouco tempo, apresentar um projecto financeiro alternativo e cumprir as obrigações actuais do clube?
Eu não digo que seja fácil e não vai ser. Até porque o clube, como já referi anteriormente, já recebeu 130 milhões de receitas, restando pouco mais. Agora, o dr. Filipe Soares Franco, que diz ter sido o “salvador do Sporting”, segundo as suas próprias palavras, que recebeu este inédito encaixe financeiro e gastou-o como quis, vai-se embora e deixa os cofres vazios? Então como é que ele salvou o clube? Só o teria feito se saísse e deixasse o Sporting com um saldo bancário suficiente para enfrentar os problemas.

O projecto Roquette e os seus sucedâneos fracassaram?
Na altura em que o projecto Roquette foi apresentado dei uma entrevista onde afirmava que estava a ser constituído um emaranhado tal de empresas, que impossibilitasse, no futuro, alguém saber qual era a verdadeira situação económica e financeira. Esta teia de empresas permitiu uma engenharia financeira e contabilística, com resultados transitados de um lado para o outro, com a qual não concordo nada.

A proximidade de Soares Franco em relação ao BES foi benéfica para o clube na renegociação do pagamento da dívida bancária?
Verifico que uma grande maioria dos membros do Conselho Leonino eleitos pela lista de Soares Franco, são, ou foram, funcionários de topo do BES. O mesmo acontece no Conselho Fiscal, onde está [José Maria Espírito Santo] Ricciardi [vice-presidente deste órgão]. Repare a similitude das situações: quando é que Soares Franco diz que se vai embora? Quando o BES diz que, face à crise que assola o mundo, irá cortar com os financiamentos para o futebol depois desta temporada. O dr. Filipe Soares Franco, com todo o mérito que terá e que eu não lhe nego, sempre tem gravitado em empresas que são maioritariamente detidas pelo BES. Portanto, em relação à pergunta que faz, considero que esta familiaridade não é desejável. Nas últimas eleições, a candidatura encabeçada pelo juiz desembargador Sérgio Abrantes Mendes, considerou mesmo Soares Franco um “empregado do BES”.

Apoiou a candidatura de Sérgio Abrantes Mendes em Abril de 2006. Estão agora zangados?
De maneira nenhuma. Ele adiantou-se e anunciou que estava a pensar candidatar-se, mas eu se avançar, vou como cabeça de lista. Se não me candidatar não vou como coisa nenhuma."

1906

Luta & Resiste!

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