domingo, 8 de abril de 2007

29-03-2007

COMUNICADO DO CONSELHO DIRECTIVO

Tendo em conta alguns pedidos de informação chegados ao Sporting Clube de Portugal durante o dia 29 de Março de 2007 relativos à intervenção do sr. Amadeu Lima de Carvalho na operação de venda do património não desportivo deste Clube esclarece-se o seguinte:

1. O património não desportivo foi adquirido pela Sociedade SILCOGE - Sociedade Construtora de Obras Gerais , S.A. conforme consta da escritura pública respectiva;

2. Nesta operação de compra e venda interveio como mediadora imobiliária a Sociedade SILFIDUCIA - Sociedade de Mediação Imobiliária , Lda que contou com a colaboração, na qualidade de consultor de gestão financeira e desenvolvimento de estudos de mercado, da Sociedade Dignidade e Firmeza, Unipessoal, Lda representada pela mulher do sr. Amadeu Lima de Carvalho;

3. Como contrapartida da intervenção na operação em causa das duas entidades referidas no número anterior, foram pagos os honorários contratualmente acordados no valor global de um 1 809 459 mil euros que correspondem a 3,55% sobre o valor de venda de 50 972 944 euros;

4. Uma parte dos referidos honorários, equivalente a oitocentos mil euros foi pago através da entrega de quatrocentas mil acções da Sporting Sociedade Desportiva de Futebol, SAD;

5. Todos os valores e elementos supra mencionados constam dos documentos mediante os quais a operação foi concretizada;

6. Para além da sua condição de sócio e da titularidade de um camarote no Estádio José Alvalade, ajustado no momento da realização da operação, nenhuma outra ligação existe entre o Grupo Sporting e o sr. Amadeu Lima de Carvalho;

Lisboa, 29 de Março de 2007

Sporting Clube de Portugal
O Conselho Directivo




Pretende-se com este comunicado esclarecer a intervenção, no negócio da venda do património imobiliário não desportivo do Sporting, do Sr. Amadeu Lima de Carvalho, que ganhou notoriedade pelo seu envolvimento no escândalo da Universidade Independente, estando actualmente preso preventivamente no âmbito de um inquérito criminal sobre o assunto.

Trata-se de uma peça que, por errónea e incompleta, traduz um certo insulto à inteligência dos destinatários. Mas trata-se, afinal, de mais um exemplo da convicção, que parece ter-se instalado em Alvalade, de que, sobre um assunto mais nebuloso, basta regurgitar qualquer arremedo de explicação, que o vulgo sportinguista tudo engolirá com lauto prazer. E se calhar com razão, porque o mesmo tipo de estratégia conduziu há um ano a uma votação maciça nestes dirigentes.

Pois, pelo menos desta vez, os caros colegas foristas vão saber coisas que o comunicado "incomunicou", e daí cada um poderá partir para a sua própria reflexão:

A pretexto de explicação sobre a intervenção do dito indivíduo na venda do imobiliário, informa-se que, no âmbito desse negócio, o Sporting pagou a duas empresas a quantia de 1.809.459,00€, correspondentes a 3,55% do valor total da venda (diga-se desde já que se trata de um valor superior aos corriqueiros 3%, mas que não pode ser considerado exorbitante num negócio desta natureza). Interessante seria também saber se este valor incluía IVA (se não, há que somar-lhe cerca de 380 mil euros). Mas adiante.

E o dinheiro serviu para pagar o quê? Pois bem, à “Silfiducia”, os serviços de mediação imobiliária que terá prestado; à “Dignidade & Firmeza”, os serviços de consultoria de gestão financeira e desenvolvimento de estudos de mercado. Infelizmente o comunicado não esclareceu a concreta repartição da verba entre as duas sociedades.

Mas comecemos pela primeira. A “Silfiducia” é uma conhecida empresa de mediação imobiliária. Mas como pertence ao mesmo grupo que a “Silcoge”, que juntamente com o Deutsche Bank adquiriu o património, fica por saber que raio de serviços de mediação terá prestado, para mais num negócio tão antecipada e prolongadamente apregoado. É um pouco como eu comprar um apartamento directamente a um particular, mas como sou dono de uma imobiliária, aproveitar para lhe cobrar comissão. Adiante, uma vez mais.

Vamos então deter-nos nos pomposamente designados serviços de “consultoria de gestão financeira e desenvolvimento de estudos de mercado” que justificaram a maquia que a “Dignidade & Firmeza”, da esposa do Sr. Amadeu Augusto Lima de Carvalho, veio a embolsar.

“Dignidade & Firmeza”? Que nome estranho é este? Será o resultado de um peculiar sentido de humor, atentos os desenvolvimentos recentes do caso UnI? Será apenas uma designação muito foleira, a fazer lembrar um estabelecimento comercial dos anos 50?

Não, meus amigos. “Dignidade & Firmeza” era uma das designações pré-aprovadas para a constituição das chamadas “Empresas na Hora”, aquelas em que basta aparecer na Conservatória e perder uns minutinhos, para saír de lá com uma sociedade constituída (para uma lista actualizada de designações pré-aprovadas - e não menos foleiras - consultar aqui).

Pois o caso é mesmo esse. A “Dignidade & Firmeza - Unipessoal, Lda. ” foi constituída, através do processo “na hora”, no passado dia 19 de Dezembro de 2006. Tem a forma de sociedade unipessoal por quotas, com o capital social de 5.000,00€, e é sua sócia única a Sra. D. Maria Luísa Barros dos Santos Carvalho, casada com o Sr. Amadeu Augusto Lima de Carvalho, tendo aquela ficado desde logo nomeada gerente. O seu objecto social consiste, como não podia deixar de ser, em “consultoria de gestão financeira e estudos de mercado, no sector imobiliário” (queiram fazer o favor de confirmar tudo aqui e aqui).

A sede da sociedade situa-se em Lisboa, na Av. das Forças Armadas, 4, 7º F, a mesma morada da residência do casal e do domicílio profissional do Sr. Amadeu Augusto Lima de Carvalho (conferir aqui).

Afortunada empresa, a da Sra. D. Maria Luísa Barros dos Santos Carvalho. Modestamente nascida com o capital social mínimo exigido por lei, adoptando uma estrutura jurídica própria das microempresas, com uns estatutos cuja minuta se pode descarregar da net, e sem possuir sequer instalações próprias, logo que foi constituída teve ocasião de prestar os seus reputados serviços de consultoria no mais mediático negócio imobiliário do ano.

Logo que foi constituída? Reformulo: antes mesmo de se constituir. É que a proposta da Silcoge/Deutsche Bank foi aprovada numa sessão do Conselho Leonino que teve lugar no dia 16 de Novembro de 2006, ou seja, mais de um mês antes de a "Dignidade & Firmeza" sequer existir.

É caso para dizer que a jovem empresa fez jus à oportunidade, porque o seu sucesso foi precoce, meteórico e retumbante. Tanto consultou, tanto estudou, que mais de um mês antes de estar constituída já havia colaborado na obtenção de uma proposta de compra firme, e logo em 15 de Janeiro de 2007, menos de um mês depois de entrar em actividade, conseguiu que se realizasse a escritura pública de compra e venda daquele mega-negócio, no valor de 50.972.944,00€.

Está assim finalmente esclarecida a intervenção do Sr. Amadeu Augusto Lima de Carvalho no negócio. Não foi nenhuma. Não passava, afinal, do consorte de uma recente mas promissora consultora imobiliária, ao comando de uma pequena mas auspiciosa empresa.

Veremos agora se a nova gerência da empresa conseguirá manter tão virtuoso rumo. Sim, porque no passado dia 7 de Março de 2007 a Sra. D. Maria Luísa Barros dos Santos Carvalho deixou mais pobre o mundo da consultoria de gestão financeira e estudos de mercado, sendo - agora sim - substituída na gerência da “Dignidade & Firmeza” pelo nosso conhecido Sr.... Amadeu Augusto Lima de Carvalho (aqui), que entre consultoria, advocacia, reuniões da SIDES, viagens a Angola e agora prisão preventiva, é capaz de ficar com pouco tempo para usufruir do camarote que passou a deter no Estádio José Alvalade.

A que título recebeu este camarote? Não terá sido certamente no âmbito do negócio, uma vez que nenhuma intervenção teve nele. Quiçá tenha sido a Sra. D. Maria Luísa Barros dos Santos Carvalho quem lho ofereceu.

Por fim, é de notar que, do valor total, 800 mil euros terão sido pagos mediante a entrega de 400 mil acções da Sporting SAD, tendo por base um valor unitário de 2 euros. O curioso é que nos últimos seis meses a cotação das acções nunca caiu abaixo dos 2,52€ (confirmar aqui), e que nos primeiros dias de 2007, por altura da conclusão do negócio, andaram permanentemente acima dos 2,65€ (aqui).

Neste último link pode verificar-se que, a 15 de Janeiro de 2007, data da outorga da escritura, as acções da Sporting SAD valiam 2,68€. Ou seja, admitindo que o Sr. Amadeu Augusto Lima de Carvalho as tenha recebido nessa data (ou antes, a Sra. D. Maria Luísa Barros dos Santos Carvalho, porque ele não teve nada a ver com o assunto), as 400 mil acções valiam então 1.072.000,00€. Acima dos 800 mil que se destinavam a pagar, mas coisa pouca, apenas uns frugais 272 mil euros, pequenita mais-valia instantânea de 34%.

Ficaram os esclarecimentos ao "esclarecimento". Como diria um conhecido forista, "olaré". Arrow
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«O meu diploma é tão verdadeiro quanto o do primeiro-ministro.»

Amadeu Lima de Carvalho

Este texto foi retirado do forum do Sporting da autoria de FLL