
Visitantes em segurança Crónica no Sporting Apoio por Pedro Faleiro Silva
"A polémica criada em torno da criação do sector visitante no Estádio da Luz tem sido, a meu ver e de certa forma, limitada quanto à real extensão do problema.
Não vou sequer comparar realidades utilizada na argumentação vermelha quanto à normalidade de tal medida. Também eu estive em diversos estádios europeus onde os sectores visitantes são, de facto, inconvenientes - cercados por acrílico e rede por cima de forma a evitar o arremesso de objectos. Mas também não deixa de ser igualmente verdade que a realidade desses países é outra, com níveis de violência por parte dos adeptos nunca vistos em Portugal. Dou como exemplo a Holanda e os seus adeptos. Nestas circunstâncias tal delimitação do sector visitante serve igualmente para auxiliar as forças de segurança a separar os adeptos dos dois clubes por forma a evitar o confronto de parte a parte.
Agora vamos a Portugal.
A maioria lembrar-se-á dos estádios pré-Euro2004 em Portugal. Todos com o relvado cercado por redes altas e algumas até com protecções extra no topo por forma a evitar invasões de campo por parte dos adeptos. Aquando do Euro 2004, e sob o mote “We Love Football” foram construídos novos estádios e reconstruídos outros tantos debaixo de novo paradigma de segurança. Tal tinha por base a realidade cultural dos adeptos portugueses serem tradicionalmente calmos e civilizados nos estádios ainda que as claques pudessem, pontualmente, criar alguma instabilidade. Nunca a segurança do espectáculo esteve em risco. Perante tal realidade, decidiu-se que os novos estádios não necessitariam de vedação a separar as bancadas do relvado, tal como se comprova em qualquer estádio da Primeira Liga. Nessa altura, já existiam as claques que hoje existem há largos anos.
Cerca de 7 anos volvidos, estamos perante nova realidade. Aparentemente os adeptos de futebol voltaram a ser indivíduos perigosos na sua generalidade e precisam de redes e barreiras a separá-los e a impôr-lhes os seus limites. Dizem que são as claques…A mim parece-me que aparentemente deixámos de “amar o futebol”…Ou será que o bonito slogan do Euro 2004 era afinal “We Love Football, BUT…” e ninguém se terá apercebido do lapso?
Não deixa de ser curioso que, na era do futebol moderno, regressem os mitos do futebol “pré-moderno”. Mitos esses que não passam de “teorias de terror” que beneficiam muitos – os gratificados – mas prejudicam muitos mais. Torna-se difícil perceber se existe, de facto, um rumo para o futebol português quanto à cultura de adepto que pretendem estimular. Prosseguir neste caminho poderá não ser o rumo mais acertado. Gostaria muito, enquanto adepto, de perceber a Liga de Clubes, as entidades relacionadas com a segurança no futebol e desporto e o Governo.
Talvez um dia o consiga…
Estando tudo devidamente contextualizado em termos nacionais, naturalmente não acredito em coincidências e tenho a certeza que este sector visitante teria de estar pronto aquando do primeiro jogo grande disputado na Luz para a Liga. Calhou ser o Sporting CP mas poderia igualmente ser o FC Porto. Mas tenho mais certezas. Tenho a certeza que é no Estádio da Luz que se invade o relvado para agredir assistentes dos árbitros, tenho a certeza que é no Estádio da Luz onde os seguranças do túnel de acesso se dedicam a agredir e/ou provocar outros agentes desportivos, tenho a certeza que é no Estádio da Luz que se “dá guarida a alguns criminosos que andam a monte” e que vão para os estádios disparar very lights contra as “bancadas adversárias”.
Tenho por isso a certeza que este sector visitante não é mais do que o aceitar desta realidade por parte da Direcção do SLB e assim proteger os adeptos visitantes – tipicamente pessoas civilizadas – de outros que não sabem viver em sociedade, respeitar as regras do fair-play e cumprir com os requisitos mínimos da socialização. Será sempre mais barato criar uma área de segurança para 4000 adeptos do que uma área de exclusão para cinquenta mil.
Compreende-se assim a posição da Direcção do Sporting CP em se instalar no mesmo sector dos demais sportinguistas. Estarão em casa, em segurança e acompanhados pela sua família verde e branca.
E termino com a última certeza. Este sector visitante, com tal dimensão e posicionado tão perto da cobertura, irá facilitar a já habitual tarefa dos sportinguistas aquando das suas visitas à Luz: silenciar o estádio para que possam ouvir os nossos cânticos.
Os mais de quatro mil sportinguistas na Luz encarregar-se-ão de tal demonstração de superioridade.
Sporting Sempre!
Saudações leoninas,
Pedro Faleiro Silva "
1906
Luta & Resiste!