quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A crise explicada sem economês!



...porque as palavras são bolinhas de sabão!

1906

Luta & Resiste!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A história do Ismero por Chirola


A propósito deste presidente ilegítimo e cooptado pela Corja, de evidências versus negação das evidências e da cegueira de quem os protege, deixo-vos aqui uma história que tem muito a ver com tudo o que se está a passar.

Andava eu no liceu no antigo 3º ano e havia um colega de turma que era o número 11(foi assim até ao 5º ano) que se chamava Ismero.

É certo que o nome não ajuda, mas era na realidade uma figura detestável.
Gordinho, de óculinhos fundo de garrafa, sempre muito aprumadinho, de cabelito cortado à tijela e sempre muito senhor do seu nariz.

O Ismero era bom aluno, tinha boas notas, fazia sempre os trabalhos de casa e o seu caderno era um exemplo. O seu comportamento era irrepreensível, isto, claro está, na visão dos professores dos directores de ciclo, da reitoria e até dos contínuos.
Por alturas do Natal e da Páscoa nunca faltavam as caixinhas com bolinhos e chocolatinhos para distribuir por todo aquele exército de educadores e responsáveis.

Já na visão dos colegas, era execrável. Era o tipo de gajo que nos recreios, ou ficava nos corredores à espera do toque para ser sempre o primeiro a entrar na sala de aula, ou quando vinha para o recreio, vinha sempre atrelado a um livro para se pôr a ler à sombra duma árvore.
Na Educação Física era um zero, eu diria mesmo, uma autêntica negação, e evitava participar em todos os desportos com bola. Quando começava o bom tempo e o professor organizava idas à praia, arranjava sempre maneira de estar adoentado.
Nos pontos nunca deixava copiar e quando havia situações extremas em que os colegas previamente lhe imploravam para ele ajudar, no rascunho escrevia as respostas erradas.

É claro que já todos perceberam e como não poderia deixar de ser, que o Ismero era o bombo da festa. Levava merecidamente bolachadas todos os dias e só não levava mais porque andava permanentemente a denunciar e a fazer queixinhas dos colegas aos contínuos, a puxar a aba do casaco aos professores e a chorar na saia das professoras.

Raramente entrava em casa da mesma maneira como saiu.
Ou lhe faltavam as canetas Rotring e os compassos Kern que lavava para a disciplina de Desenho, ou regressava com os discos de vinil de 33 rotações do Elton John que levava para Educação Musical todos partidos, ou quando ia à pasta à procura do belo lanchinho, este já tinha marchado. Isto para não falar dos óculos constantemente escalavrados e da roupa que servia para o pessoal limpar as botas cheias de lama quando se vinha das futeboladas à chuva.

Como dentro dos muros do Liceu, já se tornava complicado arriar com fé naquela espécie de gente, lá fora também não era fácil.
É que o Ismero estudou as normas e as regras do estabelecimento e descobriu que num perímetro de não sei quantos metros, também não se podia fazer-lhe ver que ele estava a seguir o caminho errado e que a sua maneira de ser e de estar era a todos os títulos condenável. Isto, claro, ao ritmo dumas cartuchadas valentes para não se esquecer da matéria que estava a ser dada.

Mas a verdade, é que o Ismero não arrepiava caminho. Por mais que lhe explicassem ou que lhe tentassem fazer ver que estava errado, que com o seu comportamento aberrante prejudicava toda a gente e que assim não ia longe, ele fazia ouvidos moucos e não queria saber.
É claro, no meio disto tudo, era raro o colega que não andava à nora com problemas de participações e suspensões.

O Ismero, como é bom de ver, também tinha alcunha. Tinha que ter.
E talvez, também por causa do seu nome, a alcunha encontrada foi Calimero. Pela sua vitimização permanente, pelo seu choradinho constante. Mas tinha ainda outra. Por ser um queixinhas, por ser um chora na saia, por ser um babaca, por ser um xoninhas. Mariconero.
Assentavam-lhe ambas como uma luva.
Mas não se pense que isso o incomodava muito. A única coisa que o incomodava realmente, era, como cobardolas e sacaninha assumido, levar umas murraças e ter de conviver com a indignação e revolta dos colegas.

A maneira obstinada e doentia como defendia o indefensável e a forma suja como negava as evidências, prejudicando o meio em que se integrava, perseguiu-o a vida toda.

Os anos passaram, e o Ismero que até era avesso a namoricos e ao relacionamento com as raparigas, dado o seu carácter mesquinho, picuinhas e mui certinho, casou.

Soubémos mais tarde, que tinha casado com uma rapariga que também tinha estudado connosco, que era a filha do chefe dos contínuos e que como não podia deixar de ser, era o maior camafeu que havia no Liceu.
De tal modo era assim, e embora a vontade de estudar não fosse muita, lembro-me que quando acidentalmente nos cruzávamos com ela nos corredores, a indignação e a repulsa era de tal ordem, que alguns chegavam mesmo a atirar os livros para o chão e a gritar que assim era impossível ir às aulas.
E lá íamos todos jogar à bola para o campo nº 3.

Mesmo assim, aconteceu aquilo que era inevitável. O Ismero foi corno.

É verdade. É certo que tinha tudo para o ser, mas que diabo... com a Carla Piedade? Aquela que para abreviar, todos chamávamos a Calamidade?

Bom, a coisa era de tal ordem, que no bairro era conhecida pela Molaflex, ou seja, o colchão da rapaziada.
Como sempre, só o Ismero não acreditava. Negava tudo.

Dizia que era tudo mentira. Que ela era impoluta. Imaculada. Que era uma Santa. Que eram todos uns detractores. Que ninguém tinha provas.

Até que um dia, após mais uma semana de trabalho como caixeiro viajante, o Ismero regressou a casa.
Encontrou apenas as paredes esburacadas e em cima da bancada da cozinha, contas para pagar. Muitas.
A conta bancária a zeros e dívidas. Só dívidas.
Não tinha nada. Sentiu-se mal. Em estado de choque dirigiu-se à casa de banho.

Em cima do tampo da retrete tinha um bilhete.
ADEUS PANHONHA!
Assinado, Calamidade.


Hoje quem quiser ver o Ismero, pode visitá-lo no asilo de loucos do Pisão.

Todos os dias se passeia com uma beca pelos ombros e grita para quem o quer ouvir:

EU SOU JUÍZ DO SUPREMO TRIBUNAL! EU SOU JUÍZ DO SUPREMO TRIBUNAL!

P.S. Qualquer semelhança com alguma coincidência é pura realidade.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A Bola tal como é




Artigo retirado do blog Em Jogo!

Fechou o mercado de transferências (até Janeiro) e agora as águas turvas do mundo do futebol vão acalmar por uns tempos. Foi uma azáfama, uma corrida contra o relógio até à meia noite que deixou alguns negócios surpresas e muitas, muitas dúvidas (ou certezas) sobre como anda o desporto-rei. Começa a ser cada vez mais evidente que a total liberalização do mercado de transferências abriu caminho a um amplio submundo de dinheiro negro, sujo, escondido que o grande público não vê por detrás de negócios hilariantes e sem nenhum sentido desportivo. Portugal continua a ser um exemplo perfeito de como mexer no mercado por todos os motivos, menos pelo jogo em si, mas não é caso único. Sob a inoperância das grandes organizações directivas poucos se atrevem a dizer que... o rei vai nu!


Sempre houve negócios sujos e estranhos nos mercados de transferência, com luvas por debaixo da mesa e comissões por declarar.

Mas o que se viveu este Verão, e nos últimos porque isto vai in crescendo, reforça a teoria de muitos de que o mundo do futebol é cada vez mais um mundo tão perigoso e suspeito como o de qualquer actividade ilegal perseguida e vigiada pelas autoridades policiais. No livro Pay as Yoy Play, um grupo de estudiosos ingleses analisa as contratações nos últimos 20 anos da Premier League e chega a essa conclusão: hoje, uma transferência, é cada vez menos um negócio desportivo e, cada vez mais, uma forma hábil de lavar dinheiro, pagar favores e ganhar influência.

Portugal continua a ser um paraíso de corruptos, seguindo a tradição mediterrânica que se estende por Itália, Grécia, Turquia e Espanha, e como paraíso de corruptos que é, de Norte a Sul, o futebol continua a ser uma arena perfeita para negociar por debaixo da mesa o que ainda é ilegal às claras. Só isso pode explicar mais de uma dúzia de negócios realizados à última hora por parte dos grandes clubes lusos - os pequenos limitam-se a copiar, em menor escala, o que vêm funcionar nos graúdos - que encontraram em agentes FIFA - nomeadamente o todo poderoso Jorge Mendes - e em clubes aliados por essa Europa fora, parceiros idóneos para maquilhar contas, pagar velhos favores, ganhar novos amigos e, sobretudo, agradar a quem realmente manda hoje em dia no mundo do futebol: os empresários desportivos.

Granada, Zaragoza e Atlético Madrid representam em Espanha o que de pior se pode imaginar nesse submundo de trocas e baldrocas desportivas, tão putrefacto que nem as autoridades se atrevem realmente a investigar. Não surpreende, portanto, que tenham sido os parceiros perfeitos para os negócios mais surpreendentes dos clubes lusos que têm realmente algo que ganhar com este mercado de três meses que muitos suplicam que se reduza a um e termine a 1 de Agosto esquecendo-se de que isso é tirar o pão da boca a quem paga o desporto, os milionários que movem o dinheiro e os agentes que lhes servem de intermediários.



FC Porto, Sporting CP e SL Benfica continuam a ser clubes com gestões pouco transparentes e, sobretudo, repletas de manchas no que ao Fair Play desportivo implica, pelo menos segundo os critérios da UEFA que continua a lavar as mãos e a olhar para o lado enquanto assiste, impassível, a este mercadilho.

Não é assim em todo o lado. Em Itália há uma velha tradição de co-propriedade que permite a dois clubes partilhar o passe de um jogador num prazo máximo de dois anos até que um dos clubes, finalmente, compra a percentagem restante. Uma situação muito mais limpa e transparente que dá pouca margem de manobra para negócios surpresa de última hora (um clube estrangeiro tem de comprar os 50% a ambos os clubes para ficar com a totalidade do passe do jogador). Em Inglaterra houve muita agitação e, salvo o caso de Joe Cole (emprestado ao Lille), muitos negócios entre clubes da Liga. Mas tudo às claras, sem comissões escondidas e, sobretudo, sem fundos porque a Premier não permite que um passe seja detido por alguém que não seja um clube, algo que vem dos dias de Tevez e Mascherano. Mas também é certo que a Premier foi a primeira liga a abrir a borbulha e a permitir a chegada dos milhões do petróleo e gás, que encontraram em clubes de futebol a forma perfeita de lavar o dinheiro ilegal que iam ganhando nos seus países de origem. O caso dos argentinos levou a FA e a Premier a acordar a tempo para a nova realidade negocial e a travar - juntamente com a velha exigência de que os jogadores tenham um minimo de internacionalizações pelo seu país - esta derrapagem financeira. Mas esse negócio abriu precedentes.

Como os de Alex Sandro e Danilo, novos jogadores do FC Porto. Os azuis voltaram a romper o mercado graças a Falcao (e recusaram propostas por Alvaro, Fernando e Moutinho até ao fim) mas acabaram por investir pouco do dinheiro ganho (12 milhões em Defour e Mangala e alguns trocos entre Kelvin, Iturbe e percentagens de passes adquiridos). Essencialmente porque os quase 20 milhões que custam os dois brasileiros são cortesia do fundo que comprou ambos os jogadores e que pretende utilizar o clube das Antas como plataforma na Europa. Os jogadores actuam no FC Porto até que uma proposta maior permita aumentar a rentabilidade do investimento e ninguém se surpreenderá se daqui a um ano nenhum dos dois atletas fique na Invicta. Um negócio obscuro que não é nada novo nas manobras de Pinto da Costa no mercado sul-americano que começou há uns anos com a compra de percentagens de passes (algo que em Inglaterra é ilegal, por exemplo) e nos negócios com empresários de reputação duvidosa que utilizavam os seus próprios clubes plataforma, criados ou reestruturados para potenciar jogadores, para sacar o seu lucro. O negócio mais chamativo dos dragões inclui a venda de Falcao por 45 ao Atlético. Uma surpresa porque ambos os clubes estavam de relações cortadas com o caso Paulo Assunção (que chegou até à UEFA) mas que se explica porque nenhum outro clube estava disposto a pagar tanto pelo colombiano. E porque Jorge Mendes estava envolvido na transferência.

O agente FIFA, que fez de Madrid a sua casa (os seis jogadores que tem no Real Madrid, incluindo um desconhecido Pedro Mendes que já se estreou no troféu Bernabeu para rentabilizar um passe que pertence ao próprio empresário), incluiu Ruben Micael no negócio por valores que vão de zero a cinco milhões, dependendo das versões. Um jogador que o Atlético não queria e que acabou no Zaragoza, clube que está em concurso de credores, mas que pode vender e comprar jogadores porque a lei espanhola é assim, uma lei sem lei. O Deportivo que bem se queixou do trato preferencial dado ao clube aragonês já ameaçou denunciar os "maños" à FIFA e com razão. Um clube sem dinheiro, com dividas astronómicas, que acabou por ser o rei do mercado nos últimos dias graças ao dedo miraculoso de Mendes. Um clube que comprou por uns meros 500 mil euros o passe de Helder Postiga, o avançado titular do Sporting. Um clube que adquiriu o jovem Juan Carlos, promessa da cantera do Real Madrid que foi comprado pelo Braga (com ajuda de Mendes) para acabar junto ao Ebro. Isto claro sem falar do negócio Roberto com o Benfica que levou o clube das águias a justificar à CMVM que a venda de 8 milhões de um guarda-redes que custara...8 milhões (num ano em que o seu passo desportivamente se desvalorizou de forma absoluta e inequivoca aos olhos do Mundo) se devia a que Roberto tinha sido adquirido por um fundo (onde também está Mendes) e que o Zaragoza tinha pago umas migalhas. Zaragoza, clube que adquiriu mais 10 jogadores (entre vários internacionais se inclui Fernando Meira) e que vendeu um dos seus dianteiros, Uche, ao Villareal curiosamente pelo mesmo valor que era devido ao Getafe, o clube da sua procedência. Claro que Uche não vai jogar no Villareal mas sim no Granada, outro clube desta trilogia à espanhola envolvido intimamente com o futebol português. Detido por investidores italianos, onde se inclui o dono da Udinese, o Granada estreitou ligações com o Benfica, obtendo Jara, Yebda, Júlio César e Carlos Martins por empréstimo. Zaragoza e Granada, clubes sem dinheiro, com um estádio novo por construir, terrenos por alienar e amigos influentes no mundo da construção civil que se tornam alvos apetecíveis para tubarões de águas profundas.


Mas até históricos caem nesta rede de dinheiro que se move à velocidade da luz, aparece e desaparece, e permite a máquina continuar a funcionar. O Atlético de Madrid é o exemplo perfeito nas mãos de Gil Marin, filho do polémico Gil y Gil, e com a colaboração de Mendes. A chegada de Falcao é um exemplo perfeito mas mais interessantes são os casos do esquadrão bracarense e de Julio Alves. O irmão mais novo de Bruno Alves, que apenas jogou na Liga Sagres pelo Rio Ave, foi contratado para ser imediatamente emprestado ao Bessiktas onde, curiosamente (ou não), já jogam Simão, Manuel Fernandes, Bebé, Quaresma e Hugo Almeida. Todos "homens Mendes"!

De Braga chegou Silvio e um contrato de preferência sobre Pizzi, revelação no Paços, que acabou por aterrar no Calderon por um valor que pode chegar aos...15 milhões de euros, impensável para um jogador sem mercado, mais o empréstimo de Fran Merida, revelação espanhola por confirmar desde os dias do Arsenal. Mas se no Manzanares entram jogadores a preço de saldo, tal como sucedeu com Roberto - o Atlético também tem um novo estádio a ser preparado, relembro - saem jogadores com preços de mercado inflacionados. É o caso de Elias, descartado, raramente utilizado desde a sua chegada em Janeiro, que aterra em Alvalade pelos 8,5 milhões que custou. O Sporting, que mudou por completo o plantel de um ano para o outro, gastou pouco em muitos jogadores. Em Elias gastou mais do que arrecadou com todas as vendas e começam a voltar as suspeitas sobre a real saúde das finanças leoninas.



Casos graves que passam ao lado de investigações policiais sérias e independentes.

Mas que não são exclusivos de clubes lusos ou pequenas plataformas espanholas. Até um clube como o Real Madrid hoje depende dos empresários para confeccionar o seu plantel. Vejam o caso de Altintop. Um jogador livre, dispensado pelo Bayern Munchen, com uma grave lesão nas costas que acaba no Real Madrid de forma surpreendente. Para muitos talvez o que surpreenda é que o turco provavelmente nunca jogue com os merengues já que está prevista a sua venda ao Galatasaray no próximo Verão depois de um empréstimo de seis meses a começar em Dezembro. E porque chegou Altintop ao Real Madrid?

Porque o seu empresário é o mesmo de Nuri Sahin, a grande promessa turca que o clube merengue contratou ao Dortmund. Uma exigência do empresário (e do jogador, que é o "protegido" do capitão da selecção turca) foi sempre de chegar a Madrid acompanhado por Altintop para valorizar o seu passe de forma a que este pudesse voltar à Turquia sem problemas, já curado da sua lesão que, garantidamente, iria impedir a sua colocação durante o Verão em qualquer clube. O Real Madrid lutou contra a situação mas rendeu-se à evidência. E hoje oficialmente, Altintop é jogador merengue. Como Bebé foi jogador do Manchester United - sem o clube o ter visto sequer jogar - ou como Tevez ainda se move por Inglaterra sem saber-se realmente bem a quem pertence o seu passe.

Essa ditadura dos empresários, aliada à sagacidade de alguns dirigentes, tem condicionado por completo um mercado enlouquecido.

Na maioria dos casos os jogadores são conscientes do circulo vicioso em que entram. Aceitam contratos chorudos para paliar o mínimo impacto desportivo nas suas carreiras mas muitos deles voltam rapidamente ao ponto de origem, como virgens arrependidas. Outros deixam-se levar pela conversa de empresários e dirigentes e perdem-se completamente para o futebol, entregues aos excessos do dinheiro e ao mínimo controlo que o clube receptor exerce na sua carreira. A maioria dos casos são jogadores sem futuro a quem lhes custa muito recuperar. O caso de Ricardo Quaresma é, sem dúvida, o mais gritante. Negócio Mendes a três niveis, passou do FC Porto ao Inter, do Inter ao Chelsea por empréstimo e daí para o Bessiktas, desaparecendo a pouco e pouco o destelho de arte que o converteu numa das grandes promessas do futebol mundial. O mesmo se pode dizer de mil e um atletas, carne para canhão neste mundo de milhões que transformam presidentes de clubes em milionários, empresários em semi-deuses e treinadores em cúmplices de projectos desportivos que se desfazem. Manzano, Vitor Pereira, Jorge Jesus, Domingos Paciência, Javier Aguirre ou Leonardo Jardim são treinadores que viram os seus planteis aumentar e diminuir de forma descontrolada durante o último mês, sem saber realmente com quem contavam para trabalhar. Domingos ficou com um plantel praticamente novo. Jesus desmontou, quase definitivamente, a sua equipa campeã. Vitor Pereira ficou sem opções para zonas do terreno onde o FC Porto vive órfão e Leonardo Jardim limitou-se a acenar que sim quando António Salvador apareceu com o dinheiro no bolso. Realidades que os adeptos não entendem e que se estendem em clubes menores com compras em paquetes express a clubes sem expressão ou com o regresso de futebolistas perdidos em ligas como a romena, cipriota, grega, russa ou ucraniana e que tentam recomeçar do zero depois de terem sido abandonados, como cordeiros no altar, ao sacrifício do Dom Dinheiro.




O futebol continua a caminhar perigosamente para um túnel sem saída. O dinheiro que se move é cada vez maior e, sobretudo, cada vez mais oculto. Não se pagaram mais de 50 milhões por um jogador - como sucedeu nas últimas épocas - mas pagou-se muito dinheiro que ficou por declarar e justificar tendo em conta o rendimento de mais de um atleta. Projectos como o do Zaragoza sobrevivem com a cumplicidade da legislação, já de si construida para beneficiar quem mais tem a ganhar com ela. Clubes como o Benfica e Sporting entregam-se a negócios obscuros que dificilmente poderiam justificar e entidades como o FC Porto ou Atlético de Madrid continuam a utilizar os empresários e os misteriosos fundos para manter-se na ribalta quando financeiramente vivem na corda bamba do resultadismo. No caso dos portugueses, na constante presença na Champions League, no caso dos espanhóis nos empréstimos bancários e na borbulha imobiliária que definiu a vida de muitos clubes de futebol no país vizinho na última década. Olhando para estes nomes, números, para estas coincidências que não o são, para tantas suspeitas por justificar, é irónico ouvir a UEFA falar de fair play e as autoridades policiais a assobiar para o lado quando um negócio como o futebol, talvez uma das indústrias mais poderosas da actualidade, continua a ser pasto para corruptos e corruptores passearem à vontade sabendo que o risco é minimo e o lucro gigantesco. À medida que esses jogadores se movem, ocupando lugares em plantéis onde muitas vezes nem contam, os clubes abandonam a formação, a aposta em jogadores da casa ou em negócios desportivos realmente relevantes, ideias que se tornaram, na mente dos directivos de SADs quimeras quixotescas quando existe a possibilidade de ganhar milhões. Enquanto o mundo do futebol continuar a vier neste limbo muitos Julio Alves e Bebés acabarão na Turquia depois de sonhar com a glória da Liga Espanhola ou da Premier e muitos veículos desportivos, viagens de luxo, terrenos em zonas privilegiadas ou negócios bem mais perigosos passarão pelas mãos de quem realmente tem a bola debaixo do braço.

Artigo retirado do blog Em Jogo!


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